sexta-feira, 24 de agosto de 2012

(In)segurança...

Tenho uma certa dificuldade (para variar) em transmitir uma ideia concreta sobre a vida em Angola. Das duas uma, ou não sou bom na escrita descritiva, ou ainda cá não estive tempo suficiente para o fazer.
Procurei perceber a ideia transmitida por tantos e tão poucos sobre o factor da falta de segurança. Quando se fala na vida em Angola, muitos somos os que nos resguardamos atrás desta realidade para assumir um certo mal-estar face a esta terra. Normal...diria eu, se assumirmos que o que nos dizem é, de facto, assim.
Não posso falar em consciência! Não, até porque uma semana apenas é insuficiente para ter uma ideia global. No entanto, o que posso é falar do que vi neste curto tempo que aqui passei. Se me vai condicionar a ideia criada quando para cá voltar de vez? Talvez...mas não imponho tal pensamento à minha forma de estar. Vivo o presente e faço das partículas do meu tempo, uma verdade absoluta.



Os dias passaram a correr, de reunião em reunião, aprendendo a vida angolana e conhecendo muita gente de cá e outra que cá está! Subitamente cheguei a sexta-feira sem que desse por isso. Haviam-me já avisado, os outros expatriados, que aqui o tempo passa mais depressa. E que, sem saber muito bem porquê, ficamos mais cansados...no início. Eu diria que sim, até tenho sono.
Sendo um expatriado, no início, destaco-me (pensava eu) quando no meio da restante população. Era giro de me ver. Mas o tempo passa e, após algum tempo deixo de reparar nesse detalhe...faço parte. Os pulas que para cá vêm pela primeira vez tendem a pensar que tudo e todos olham para ele...sim, também passei por isso. Mas o facto é que, passados uns dias, reparei que não...durante o dia sou mais um, não tão moreno, que provavelmente veio de fora e para aqui anda. Há ruas onde estrangeiro anda a pé...porque pode; e há ruas onde anda só de carro...porque deve. Estou a falar da cidade, Luanda, no meio da sua multitude de gentes, carros, prédios, lojas, empresas, lixo e pó (tanto, tanto pó). Saindo do centro...não é bem assim, mas lá chegarei. E de noite o caso também muda de figura, há que reajustar...mas também lá chegarei noutros textos. A (in)segurança existe, sim, se deixada ao acaso. Mas os hábitos criam-se e quando se assumem deixam de arreliar...são hábitos. A título de exemplo, não deixei de estacionar o carro, sair, atravessar umas quantas ruas e cruzamentos, acabando a comer uma bola-de-berlim numa confeitaria de esquina. É que nós os expatriados andamos por aqui, uns de carro e outros a pé, sem deixar de saborear tudo o que esta terra tem para oferecer.

Correndo tudo como previsto, se Deus quiser, volto para ficar cá não tarda nada...mas agora vou embora, no avião das 0h10 para Lisboa. Darei notícias. Parece impossível, mas deixo cá uma parte do coração....gostei e gosto disto!



quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Cheguei!


Cheguei! Foi-me dada a "vantagem" de poder observar como tudo é por terras do Zédu (o sr. Presidente José Eduardo dos Santos) antes de, de facto e de malas&bagagens, assumir este país como residência. Sairei daqui mais informado e, correndo tudo como o previsto, para cá viajarei dentro de poucas semanas...para ficar! Até quando? Só Deus sabe...e eu feliz!
Pois é, já começo a pensar com sotaque Mwangolé e ainda agora cá cheguei...o que influencia a escrita. Desculpem...
Estamos em Agosto, terceira semana, e cá vim parar durante uns dias para absorver ideias e conhecer o território, as pessoas, os negócios, o trânsito, o clima...os restantes pulas (nome dado aos portugas que para cá vêm), os candongueiros, os senhores agentes da autoridade, entre tantas outras coisas.
Cheguei segunda-feira de madrugada, voo TAAG. Confesso que fiquei surpreendido pelo número de horas necessárias para cá chegar...7h30 de voo (valha-nos as vicissitudes do emprego que me trouxe em executiva...).
Hoje é quarta-feira! Isto é, demorei 3 dias até conseguir tempo mental para escrever...estou a ver que o projecto deste blog vai ser menor que o pensado. E não o digo porque não me sobra tempo para pensar ou nada tenho para contar. Não, nada disso. O problema é não encontrar a fórmula mágica para conseguir transformar o que vejo, o que sinto, o que cheiro e o que absorvo aqui...em palavras. Afinal...isto, é África!
Saí do avião pelas 5h30 da manhã e depressa me apercebi que o que sentia nos pêlos dos braços, não era chuva mas sim humidade. Os pulmões passaram um pouco pela fase da cabeça debruçada numa panela a ferver com toalha à volta...quem teve asma sabe do que falo...até que se adaptaram ao confortável inspirar de quem fuma um cachimbo de água. O sol já estava a subir, ainda que devagarinho.
Chegados à alfândega, tudo decorreu sem stress (ou sem maca, como aqui se diz). Quando dei por mim, estava já de malas&bagagens num local azafamado, apesar da hora, nas ruas de Luanda, cheias de gente. Atravessei a estrada e liguei o botão do ON...havia consertado comigo mesmo que antes de abraçar este país, deveria saber tanto ou mais de como aqui viver, quanto os outros pulas que já cá estavam; Por isso li, perguntei, li, perguntei, li e perguntei!!! Imenso! ...então liguei o modo Angola, saber estar e viver.
Aconselho aos demais corajosos, loucos ou simplesmente distraídos que para cá estejam a pensar vir, a fazer o mesmo...ajuda, parece que somos da casa...
Então comecei a viver Angola!
Não quero com isto dizer nada de extraordinário...antes que retirem alguma ilação das minhas palavras sobre se isto é bom, mau, assustador, ou outro adjectivo que prefiram usar...mas ao fim de 3 dias, eu...estou apaixonado por Angola! Não é para todos...não, não é...e como se costuma dizer aqui, ou se ama, ou se odeia. Verdade!
Um detalhe que me saltou aos sentidos, foi o cheiro. É indescritível. O mais aproximado que consegui inventar para passar a mensagem foi, sem ainda assim achar que consigo transmitir o correcto, o momento em que entramos num carro novo, mas que esteve umas horas ao sol, numa praia sem sombra, 2 segundos após ligarmos o AC...ou seja, impossível descrever, muito menos de imaginar. E não, se me perguntarem, não é desagradável, antes pelo contrário.
Finalmente, ainda hoje, quero falar-vos da luz! Lembram-se certamente alguns, da realização do filme África Minha, com a maravilhosa Meryl Streep e o Robert Redford. Aí está! A luz! Não há igual!




...



Entretanto passaram-se 3 dias. Hoje e neste texto não vos falarei de mais. Estou cansado e estou em África! O tempo aqui passa ao contrário... A trabalhar, de repente, o dia passou...; Dedicados ao ócio, aqui, o tempo é longo...vou aproveitá-lo e desfrutar desta maravilha.
Amanhã, se a alma mo permitir, conto-vos mais...já experimentei alguns dos mitos que tanto assustam quem ouve falar nisto...afinal, os mitos têm de nascer de algumas verdades...mas não deixam de ser mitos.
Agora vou-me...aqui é África...estamos no Cacimbo...e é de noite...

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Preparações & Preparações

Para os menos distraídos, a partida para aquele país tropical é sinónimo de azáfama, (des)organização e muita papelada, entre outras coisas. Começa pela corrida à loja do cidadão, afim de, a tempo, conseguir a documentação obrigatória para o pedido e consequente autorização, ou não, de Visto. Sim, ou não...porque acontece. E atenção que falo apenas no visto ordinário... O visto de trabalho...dá mais trabalho!



Bem, começo com uma pequena lista:
 - Passaporte (loja do cidadão)
 - Registo Criminal (loja do cidadão)
 - Carta de Chamada (empresa contratadora)
 - Extracto ou Saldo de conta em nome pessoal com saldo igual ou superior a 200,00 USD por cada dia de estadia. Chamam-lhe garantia de "bens de subsistência".
 - Boletim de vacinas internacional com a vacina contra a febre amarela em dia.
              - Convém ir a uma clínica de medicina tropical para ouvir uns quantos bons conselhos, saber que vacinas tomar, receber as receitas para a medicação a levar e saber como usar tudo isto...muito e caro.
              - Levar umas quantas injecções:
                       - Febre amarela
                       - Palodismo
                       - Febre tifóide
                       - Hepatites A, B, C
Sim...eu? Todas!



Convém também tirar a carta de condução internacional...só se pode usar a "nossa" lá durante 3 meses...não dá.

Bom, depois disto tudo, é melhor contar passar umas quantas horas no consulado, preencher muita papelada e juntar outra tanta...até conseguir a famigerada autorização e Visto.

Ou então deixar que o colega dos vistos se preocupe com tudo...obrigado Paulo, rei dos Vistos. :D


A partir daí...boa viagem :)

Vou...



Pois bem, criei este blog no seguimento da minha louca vida de nómada (assim designado por outrem) e da mania que tenho de escrever, bem ou mal, dependendo do ponto de vista! Após o rescaldo do meu original "outer space", que por sinal vai e seguirá de boa saúde, achei por bem não misturar as coisas.
Vai daí, criei o Angola de malas & bagagens...
Ora bem, eis que surge um novo desafio. Angola! Pensado? ...não! Ansiado? ...sim, sem dúvida! Mas acima de tudo Arrebatador! ...sim, Arrebatador!
Desde que me recordo, sempre sonhei com uma experiência "lá fora". Fosse ela de trabalho, fosse por ter ganho o euromilhões (que agora está na moda), ou pela perseguição de um amor impossível, o bichinho lá estava. Era uma ânsia capaz de me deixar sem dormir...mas dormia.
Viajei pelo mundo, de férias e em trabalho, tenho sorte! Sim, mas era tudo passageiro, uma semana ali, outra acolá...experiências? Sim, muitas! Mas não o suficiente...digo eu.
Mas se havia de esperar uns quantos anos, porque nada acontece por acaso, surge na melhor das melhores alturas. E de malas & bagagens preparo-me para a tão ansiada aventura. Nunca esperei que fosse ali...tão perto e tão longe do local onde dei os meus primeiros passos...Moçambique (lá perto...relativamente).
Não quero com este blog divagar sobre o aprazível sentido das coisas nem dos sentimentos. Quero apenas relatar. Contar histórias e cativar outros a seguir os passos que espero vir a dar.
Não pensem que vou porque fiquei rico e excêntrico. Também não vou à procura de safaris e outras aventuras de espingarda na mão. Nada disso! Vou trabalhar... De facto, trabalhar! E pelo que dizem, lá, é o que mais se faz. Ok, certo, há-de haver saltos às praias paradisíacas, aos safaris no Parque natural de Quiçama, aos Resorts no meio da Selva, aos bares tropicais nas ilhas, etc... mas isso é acessório.

 

 Vou trabalhar...com tudo o que isso implica! Ajustar a forma de trabalhar, compreender o Mwangolé, passar horas e horas a fio em filas de tráfego descontrolado, atentar aos pilantras que por ali se querem fazer sentir (mal), conhecer Luanda sem GPS, entre outros (maus) hábitos a adquirir.


Mas cá vou eu, dentro de uns dias...depois conto, aliás é para isso que este blog serve...sempre que possa e queira.
Até qualquer dia :).