segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pronto...e tudo o que vem aí.




Cá estou na Kapital angolana. Uso o K porque não há nada que se assemelhe senão aqueles movimentos nocturnos que noutros tempos conheci pelas ruas da nossa capital, Kremlin, Kapital, ou outros Krns quaisquer que por esse mundo fora proliferam. Luanda...que desapego de normalidade incomum.
Bem, despedi-me ontem com uma sensação há muito perdida. Aquelas Despedidas torcidas que nos deixam incertos do que estamos a fazer...causticas e lacrimosas, capazes de nos fazer perder noções de organização. E confesso que me considero organizado, mas ali, não fui. Benditas as portas do elevador que interrompem olhares húmidos...pah, violento.
Carreguei um peso pesado às costas, não, minto, deslizei-o. Malas e mais malas com excesso de peso à vista do check-in. Mas eu sou agente, (a)gente, e por isso tenho sorrisos que até nem se importam que a balança acuse a PS3 a mais, ou até o exagero de camisas para a batalha. Enfim, o problema colocava-se à chegada. Um entre muitos, carregado até aos dentes, não convém perder nada, diga-se.
De olhar posto nos olhos que dominavam o balcão fiz-me parecer um habitué. Lá fui, sorri e arquei com a coragem. Upgrade! Upgrade? Sim, Upgrade! ...certo, Upgrade! ...e lá entrei pela porta da frente até à poltrona da aeronave que tão confortavelmente se transforma num leito para uma viagem nocturna...ah, dormir. E sonhei que me fartei. Acompanhado pela beldade da poltrona da esquerda que, após deixar cair uma quantas vezes as maletas em cima da minha (...), depressa se horizontalizou e sonhou ao meu lado.
Abri os olhos ao som de uma voz distorcida que parecia conversar com todos. ... convém terem a noção de tempo e de espaço..."por isso pedimos aos senhores passageiros que coloquem as poltronas na vertical durante a aterragem". Devo dizer que adorei o detalhe.
Ao invés das demais vezes, entrei no aeroporto 4 de Fevereiro, na Kapital, com uma velocidade estonteante. Estava vazio. Os outro voos estavam atrasados e por isso o terreno era só nosso. Que entrada flash! Em menos de 10 minutos estava deleitado com aquele nervoso miudinho de quem aguarda as malas, tantas e tão pesadas. ...pois... 2 horas mais tarde e alguns telefonemas para quem me aguardava impaciente na saída, eis que tenho de carregar tudo de novo. Aí estavam elas, a PS3 e as camisas, encarceradas com cadeados e muita fita à volta do invólucro.
Lá fora havia um mar de gente. E eu ali no meio, tipo polvo de 8 braços à volta da minha fogueira...sim, capaz de incendiar a multidão. Mais um telefonema e o sorriso expressivo da personagem exausta de tanta espera surge no meio daquela feira para me emprestar dois braços. Assim, sim. - o carro está no parque, temos de ir por ali!...com um sotaque mwalgolé formidavelmente carinhoso, desatou a deslizar pelo meio de tantos, e eu atrás.
Já no carro, conduzido por quem diariamente me irá transportar pela Kapital, apercebi-me que o Verão que ainda agora começou aqui, tem alguns dias cinzentos. Mas a temperatura aconchega e a humidade refresca.
A loucura que se seguiu parecia parte de um filme mudo. Nós, lá dentro e com o AC a fazer o seu trabalho, e as imagens projectadas na nossas janelas de um infinito número de automóveis que empurravam o tempo, lentamente...é fantástico de ver, mas louco de sentir.
Chegado ao meu destino, de olhos postos na paisagem, observei quão bonita está a nova Baía. Até quando? Há que conservar. A Baía de Luanda é indescritível. Deixo-a à imaginação das mentes de quem não a vê, todos os dias, ao acordar. E o mar ali...gosto.
Deu mesmo tempo para ver a comitiva do ZéDu que de ferozes batedores e muita farda à mistura, passou na minha porta de sirenes ligadas. Nunca é demais observar tamanha agitação, em miúdo adorava estas coisas.
Atirei-me com toda a força ao que vim para cá fazer...e correu bem, quem corre por gosto...trabalha!
A noite caiu depressinha. Hoje, no meu novo espaço, vou deixar que a noite da Baía me afague a saudade. Apesar das tentações da rua, foi um dia em cheio e há que ganhar forças. Amanhã é outro dia e África não espera. Estou pronto...e tudo o que vem aí.


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