Ainda em Portugal procurei saber se no mercado online havia coisas tipo TomTom para Angola. Pois...sem alongar muito a história, vim sem ele! Há hábitos que nos deixam meios tótós. Devia existir um manual para estes sobre guiar no estrangeiro sem GPS. Se houver, comprem, nunca se sabe.
Nem mesmo o meu "dependable" Google Maps consegue matar as saudades daquela voz sensual que nos diz, vire à direita e dê a volta quando for possivel. Nada! Também não admira, aqui não há ordenamento rodoviário... - onde estás? onde reunimos? - Pah..estou aqui perto do Skyna, naquela rua que sobe... - Ya, quando estiver a passar aí perto, ligo. E assim se anda. O importante é conhecer o terreno. Não há outra solução.
Desde que cheguei a Luanda que sou conduzido pelo chauffer. Com muita paciência, o Bastos leva-me a todo o lado! Até porque não há estacionamento, por isso ele deixa-me onde tenho que ir e vai dar voltas ao quarteirão. Assim decorrem os dias.
Quando cai a noite...tipo 18h30 (deste lado do mundo o sol escapa-se cedinho), o caso muda de figura. Sem Bastos, que foi para casa ter com a família, dependemos de nós próprios ou de uma amiga ou amigo que cá está há mais tempo. Ou seja, para não sermos os chatos que nunca trazem o carro e podem sempre beber, há que aprender depressa.
Às voltas por aí, vai-se aprendendo alguma coisa. Isto é, se esquecermos o trânsito alucinante do dia-a-dia, até nos achamos capazes.
Ao fim-de-semana, das duas uma, ou ficamos em casa, ou aventura-mo-nos! Foi o que fiz neste 1º sábado. De mochila na mala, carta de condução internacional no bolso e alguma determinação, pus-me ao volante. De salvaguardar que qualquer expatriado que leia estas palavras vai rir-se e gozar-me porque também passou por isto...
Orgulhosamente, recordei o caminho da marginal (Luanda) até Talatona...45 minutos. Cheguei sem enganos e sem percalços. Boa!
O dia foi passado estendido ao sol, na piscina de um condomínio onde mora uma amiga...segundo escaldão do ano.
No final do dia, era hora de voltar. E tudo correu bem até ao momento em que, distraidamente, deixei-me seguir para a Ilha de Luanda e não para a marginal...devia estar com uma vontade escondida de ir ao Tamariz curtir um sábado à noite alcoolicamente bem disposto. Enfim, dou a volta logo ali, pensei... Atento à primeira escapatória de inversão, porque para ali nunca tinha ido, segui calmamente pela ilha. Finalmente, à esquerda, aí estava ela. E teria virado, não fosse uma mão de luva branca estendida no ar que me obrigou a estacionar...pumba, operação stop.
Há muitas histórias sobre os agentes da autoridade aqui em Luanda. Umas verdadeiras e outras...também.
- A sua carta de condução e documentos da viatura por favor.
- Boa tarde! Aqui está a carta...quanto aos documentos da viatura tem que me ajudar!
- ...?
- (abrindo o porta luvas) Pois...é isto?
- É isso! Tem o seguro?
- Deixe ver...tá aqui!
Após umas voltas à viatura, o agente entregou-me os documentos e a carta..."sem maca" (tradução - Sem problemas).
- Pode seguir!
- Olhe, dê-me uma ajuda, diga-me como posso dar a volta para trás. (porque a dita escapatória tinha ficado uns metros antes.
Com um sorriso de quem pensa "olha-me a lata deste", o agente olhou em redor...o que me fez entender que para virar, só no fim da ilha...oops.
Mas, logo a seguir.
- Vem para trás que eu tiro o cone do meio.
Assim fiz, e o agente calmamente caminhou atrás de mim enquanto eu fazia a manobra à retaguarda de reaproximação à escapatória.
- Obrigado! Gritei eu pela janela.
Amavelmente levantou a luva branca e apontou para a frente.
Rapidamente e após mais uma aventura (sim, porque já tive umas quantas aventuras com os agente da autoridade...mas disto falarei noutra altura), cheguei ao meu destino.
Conclusão, mesmo sem GPS, isto vai...